“Difícil é transpor os muros invisíveis

que estão nos reais.”

Eduardo Lourenço

 

Por Alves Godinho

Um buraco negro, devido a fenómenos já registados no seu limiar, possuirá uma energia equivalente a mil estrelas. Serão os buracos negros constelações invisuais?

Somos todos cegos, querendo para além da luz?

Onde estão as mãos que se atrevem no inviso universo, tacteando ávidas por novos alvores?

Mnemónica da física dos mundos:

Se a força é má (f = m x a)

E se o trabalho é fé (w = f x e)

Então, entre o desespero e o júbilo, ressuscitamos o grande enigma do universo.

Escala da visão sem omissões: o olho humano capta naturalmente a luz entre os infravermelhos e os ultravioletas. E o que não alcança, todavia, persiste luminoso.

Na relativização das luzes reside a conformidade das cegueiras.

Cego de ver-me esvair, redime o tumulto da luz eterna?

Querem que os cegos vejam à velocidade da luz? Os cegos já vivem à velocidade da luz.

Se reconhecêssemos mais a nossa ignorância em relação à luz, estaríamos todos mais perto. E os cegos estariam menos longe.

Serão os cegos transes da luz?

No tecido do tempo, os cegos são o avesso da luz?

A cegueira é uma visão crioula: um pouco de noite, um pouco de luz, um muito de mundo.

A cegueira é preta que chegue. Que a vida se mestice na paleta da luz.  

Da cegueira, difícil é partilhar tai confins. E, carrego de Deus, suportamo-la para lá dos infernos. Às vezes, esmaga a condenação de tanta luz!

As combinatórias ressurreiçantes do universo são cegas?

Extraí da semente adormecida o tempo mágico das visões.                  

E o amor desvelou-se na cegueira mãe dos fascínios.

Vê cheio, vê fundo, vê forte. E, cego, parte para novas perfeições.

Armaram-te para o infinito. Não esqueças a inocência do corpo.

Nem a noite onde ser cego dá ventura.

Ao dizer a dor de pensar, recomponho a visão cega que me dá outros mundos.

Um cego é uma ilha de preta luz.

Domingo, 6 deste Maio, a Lua atingiu o perigeu (a sua forma mais próxima visível, a 357 500 quilómetros da Terra). Assim tu: bela, silenciosa e distante. E eu, cego, a adorar-te e à velocidade da luz.